Poesia de garagem, música, descrições e indiscrições. Um blog tardio mas que nasceu de sete meses, angustiadinho e agora com algumas revisões gramaticais.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Algodão enterrado nas narinas.

De um meio tambor azul anil encostado numa das ruelas da ilha, tenta emergir - se esgueirando num desespero silencioso - um inseto de madeira flexível e improváveis onze patas. Uma delas já alcançava a borda enquanto as outras dez permaneciam emaranhadas em fios de nylon, sacos vazios, pacotes de um branco leitoso e azedo, sprays repelentes, peles de látex, cacos de logomarcas variados, esqueletos de alumínio e rótulos que devolvem a claridade de um sol em flor como se emitissem uma petulante luz própria.
A estrutura do bicho repousa inerte num desamparo terrível, afundado na cova rasa e celeste. Mesmo morto, o corpo se distingue clara e melancolicamente de toda imundice que o cerca.
Nem o mais bizarro cadáver consegue abraçar o leito infértil da podridão plástica.

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