Poesia de garagem, música, descrições e indiscrições. Um blog tardio mas que nasceu de sete meses, angustiadinho e agora com algumas revisões gramaticais.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

como esquecer a questão sem nome?


se eu te disser pra desacreditar o número
e que a mágica não supõe milagre
e que és tu quem caça o tentáculo
e delira com as ventosas na cara
e negocia as dores de parto de uma mãe morta

tu manténs
as mãos guardadas nos bolsos
rijas que quase tremem
com a feição estranha como a de quem
negocia as dores de parto de uma mãe morta?

mascando ogivas


tem algo entre os teus dente
que pode ser o fio da meada

puta que nos pariu
só mesmo um nome santo pra te calar na boca
e todo o expediente vicioso que tentamos lograr
gengivas negras
mascando ogivas
cuspindo um rume de escrotice
essa nossa delícia leviana
que tenta arrancar um naco
de uma verdade tão profunda
quanto um deboche

só mesmo uma flor pra nos calar

o fio da meada

de resto
tudo que seja raso
surdo
e intranquilo

como os pés à flor d’água
antecipando o eletrochoque

contrabajissimo


ando
ando e sei que sina
é esquina e susto

ando
e dobro apostas
como se tudo fosse caminho

como se nada medisse vida
como se os sinais nunca falhassem
como se o tango seguisse além dos quatro quarteirões

pra ver
que te ver me impele à vida
me impele à morte
aquilo tudo de tragédia

rápida
ríspida
risível

quase leve
quase desejada

e que se volta
contra mim
num doente
contrabajissimo

.

ontem
precisei de ti

mais do que teu ombro
teu pescoço
os nós que ascendem e
arqueiam tuas costas

quis o sumo
puto e sacro
das ondulações perversas
a dominar
teu crânio e crina
e descarnar
tua cor da alma

não soprei pétalas
nem desmembrei anjos

precisei do choro falso
do ganido exato
do vapor sacana
que fantasma a tua boca
nossa pequena morte

pra aquecer e esquecer

.

poliomielite


passeia

o pescoço suspenso
sustentado entre engano e ganância

altivo
conta os passos
(posses?)
com o tédio heróico
de quem empurra uma cadeira de rodas

mas não sabe exatamente
quem dos dois está doente

.