Poesia de garagem, música, descrições e indiscrições. Um blog tardio mas que nasceu de sete meses, angustiadinho e agora com algumas revisões gramaticais.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Fila

(ou a inquestionável arte de sufocar aspirações)

Não
Nunca
Nem
Possivelmente
Talvez

Se tens algo
Contra
Favor
Desesperar
A sua vez

segunda-feira, 29 de março de 2010

Bottle for the dumped...



...and don't forget to give me back my "Beck" t-shirt!

Gotas de Sabedoria do Dr. Leary Houdini

Leary Houdini e a neo-psicodelia. *

O professor doutor Leary Houdini é um cara legal. Mestre em escapismo, pai de duas crianças acreanas e da revolucionária teoria do Inexistencialismo, o Dr. Leary é tão viciado em cultura pop quanto eu. O professor esteve há pouco por estas plagas equatoriais e pudemos ir um pouco além dos e-mails repletos de histórias, percepções alucinantes e dicas de discos.

A vida atribulada dos últimos meses no Eldorado cobrou seu preço – num intercâmbio de culturas, tomou chá das cinco com os silvícolas, desenvolveu uma estranha dependência em brazilian nuts e jura que viu Tupã – mas também deixou espólios. Além de finalizar as últimas páginas de sua obra Ecce Húmus - Fundamentos do Inexistencialismo, Houdini firmou profunda amizade com Bonifrate, compositor e cabeça da banda Supercordas. O doutor me mostrou o disco com um sorriso pacífico e disse, cheio do sotaque: "Cabôuco, esta cd'zinha és pra ouvir a cerca de naturessa". Daí botou nas minhas mãos o álbum Seres Verdes ao Redor como quem entrega um amuleto. Eu já conhecia os sons do Bonifrate (inclusive versões mais simples de algumas faixas desse disco) e havia baixado tudo que tinha disponível do doido no Trama Virtual: seus excelentes discos solo, os primeiros do Supercordas e até alguns projetos paralelos como o The Psilocybian Devils e o Vitrola Photosintética. Dr. Leary estava traqüilo e isso se espelhava no disco. Fiquei feliz. Em nosso primeiro encontro, há uns 9 anos, ele estava alteradíssimo e loucaço com o primeiro disco do Júpiter Maçã, A Sétima Efervescência (onde se acha o hit Um Lugar do Caralho, que tantos pensam ser do Raul Seixas). A placidez com que me entregava o Supercordas e aquela seqüência de roques rurais lembrando bastante o Obscured by Clouds do Pink Floyd me parecia algum tipo de evolução. Vá saber.

Tomando um sorvete de murucí numa Cairu despinte trocamos mais idéias sobre os bons discos da Elephant 6 (selo de boa parte das boas bandas da chamada neo-psicodelia como Beulah, The Apples in Stereo, e Olívia Tremor Control) enquanto eu reafirmava minha paixão pelos Flaming Lips.

Leu pra mim o primeiro parágrafo do seu novo livro Firme é o Firmamento, onde descreve seus sonhos - "O Kerouac non mandow béin no dele", soltou - pagou o sorvete e me presenteou com o Supercordas. O Professor Doutor Leary Houdini é um cara legal .
 
*Este texto foi escrito em fevereiro de 2007 para ser publicado na de.lovely (uma revista do Roxy Bar que não vingou). Resolví desencavar essa porra pois tenho reencontrado o velho Leary ultimamente. Assim que rolar algo novo com o catedrático, posto aqui.

Unicornio - Silvio Rodrigues

Mi unicornio azul
Ayer se me perdió
Pastando lo dejé
Y desapareció
Cualquier información
Bien la voy a pagar
Las flores que dejó
No me han querido hablar
Mi unicornio azul
Ayer se me perdió
No sé si se me fue,
No sé si se extravió
Y yo no tengo más
Que un unicornio azul
Si alguien sabe de él
Le ruego información
Cien mil o un millón
Yo pagaré
Mi unicornio azul
Se me ha perdido ayer, se fue

Mi unicornio y yo
Hicimos amistad
Un poco con amor
Un poco con verdad
Con su cuerno de anil
Pescaba una canción
Saberla compartir
Era su vocación
Mi unicornio azul
Ayer se me perdió
Y puede parecer
Acaso una obsesión
Pero no tengo más
Que un unicornio azul
Y aunque tuviera dos
Yo solo quiero aquel
Cualquier información
La pagaré
Mi unicornio azul
Se me ha perdido ayer, se fue.



Deus - ou o que quer que sejas - não me tires a inspiração. Livrai-me do embotamento, amém.

sábado, 27 de março de 2010

E falando em barbárie...

Continua difícil de tirar dos aparelhos o cdzinho que ganhei do Zimmer, na Feira Música Brasil em outubro do ano passado, com as músicas de uma das suas bandas - gordinho prolífico esse Zimmer.

Cassim & Barbária é uma belezura. Não se prende muito a rótulos: That Old Spell tem uma vibe meio bee-gees meets indie rock e isso é foda; Blixa Bargeld, o braço esquerdo do Nick Cave, dá nome à outra faixa do caralho que lembra bastante o Yo La Tengo; This Place Called Feeling sugere uma improvável balada pop feita por Lee Ranaldo; aí vem uns vocais meio rock new wave atualizados com efeitos e ambientação chapantes, guitarras noise e pegada certeira de batera (que já funcionou na pista da Se Rasgum com o pitch mais acelerado) de Libertaria (Madagascar); fechando, mais uma surpresa com Lost In The Woods/A Minute Ago que parece um glam noise, tipo uns Super Furry Animals sendo esquartejados por um Killing Chainsaw nos créditos finais.

Espero encontrar o butcher boa praça do Zimmer mais vezes - quem sabe no V Se Rasgum? - pra trocar umas idéias.

Sober.

Mais logo vou encontrar uma moçadinha no Old School Rock Bar, barzito maneiríssimo que abriu as portas há uma semana com uma cozinha delícia e cevas celentes. Mas tomando remeditos incompatíveis com etílicos vou ficar só nos comes, resignado. Bacana, volto menos pobre e falando menas merda. Experiência interessante para um prolixo feito eu manter a boca fechada para o álcool que entra e as barbáries frasais que se permitem sair.
Saio então embalado pelos Baudelaires.

Sofá

Eu realmente sabia que a idéia de trazer o pão ia dar em merda.

Conectando mais sons.

Esses dias tive a oportunidade de conhecer algumas bandas brasileiras bem interessante. Algumas já prontinhas pra entrar no meu celularis, outras direto pras pistas da Se Rasgum. Não estão todas aqui, coloquei essas aí de forma quase aleatória, mas todas me chamaram a atenção por algum motivo.

Bem, dividamos o pão.

D Mingus - Não nego minhas raízes psicotropicais. Essa one-man-band do Recife me agradou, ainda que não me pareça realmente pronta. Western spaghetti com psilocibina (como entrega a faixa Alien Morricone Strikes Again); uns parentescos - ainda que falte algum caminho pra chegarem lá - com o Supercordas (Galáxia 2001 Futuro); mutaçõezinha de Flaming Lips fase mais recente com Jupiter e Baptistas (Colméias). Pra mim, carece de uma afiadinha nas letras, mas nada que umas páginas do Burroughs com Catatau do Leminska não dê uma mão (ah! se lerem as matérias da Veja e Isto É "explicando/demonizando" o daime adiantam um bom bocado).
http://d-mingus.conexaovivo.com.br/playlists/

Gentileza - Surubinha musical via Curitiba. Apesar do amplo espectro de influência - da valsa ao brega e viola caipira, do rock ao sambinha de branco (diga lá, Bill) - não soa pretencioso e é até bem divertido. Nessas de misturar várias referências a banda peca por uma certa irregularidade. Eu sou bem mais a mineira Graveola e O Lixo Polifônico, mas o Gentileza vale uma ouvida. Coracion é um bolero bacanáite; O Indecifrável Mistério de Jorge Tadeu começa numa batida que lembra a entrada dos jurado no programa do Sílvio ("Wa-gui-ner-montes lá, lá-lá-lá-lá, lá-lá...") e é bem divertida na sua pegada breguenta (Graforréia?); de resto, se procurar tu achas mais alguma coisa interessante nos caras.
http://bandagentileza.conexaovivo.com.br/

The Hell's Kitchen Project - Baixão distorcido e riffento; batera forte que umas vezes soa pós-punk, outras rockão clássico; vocal bem cativante e é tudo o que o THKP precisa pra te botar numa roda de "pogo com gatinhas". Ví um show das crianças em Minas uns dias atrás e funcionou muito bem com a combinação "relevante" de Serra Malte com Vale Verde. Saca lá pelo menos Ferris Wheel.
http://thkproject.conexaovivo.com.br/

Nostalgia on Train - Nêgo usando sons de games 8 bits não é bem uma novidade, mas esse (s?) cara (s?) fazem a parada pra valer. É game music bem feito e pronto pra pista. Press start em Snow Cannon que tem um clima massa desde o início e Tilt que é quase auto-explicativa.
http://nostalgiaontrain.conexaovivo.com.br/

L.A.B. (Less a Bullshit) - Trio gaúcho de rock/eletronica, dando pista de 80's cantada em português. Vale uma escutada em Uma Vida em 8 bits e Segundo Andar.

http://l-a-b.conexaovivo.com.br/playlists/

quinta-feira, 25 de março de 2010

when a sparkle turns into a supernova.



Mark Linkous deu um tiro no peito há alguns dias atrás. Sua banda, Sparklehorse, faz minha cabeceira desde o lançamento de Good Morning, Spider. O parceiraço Damasito pode te contextualizar da parada numa matéria pra Billboard.
Mais do que as rugas - às vezes tristes - nos cantos dos olhos, a ida dos nossos ídolos nos faz lembrar da nossa própria idade avançando. Mark Linkous antecipou mais um pouco meu envelhecimento. Tô cansado de despedidas, seu filho da puta.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Whorehouse Pets

Red eyes
Pointed horny dicks
Burning flesh
Learning all the tricks
Classy cage
Baby's vulgar dress
Boys in rage
Looking for caress

Black night smells
Like semen, blood and sweat
Doesn't matter
If you're sick or fat
Dirty money
Making all the rules
Drowned in booze
Kicking out your blues

You give what you get
You are a whorehouse pet!

terça-feira, 23 de março de 2010

um souvenir bizarro.

desce a champs elisée
às dez pra uma da matinée
absolutamente
embriagado de vodca
com as mãos decepadas
da noiva
na mochila nike
ao encontro da ironia
no arco do triunfo

dos céus de paris,
negros como o mundo,
um orvalho gelado
desce
amargo
como mais um gole
um gosto impessoal de baunilha
os pés rijos
pisoteando as vitrines
enquanto uma velha gorda
imundana
senta na base
dum poste centenário
com as mãos erguidas
numa estranha oração
soluça por uma migalha
de euros.

a mochila pesa um pouco mais
com o bizarro
souvenir.
Bom ouvir os motoristas de ônibus cantando
E os pássaros trocando as marchas
Mas essa manhã começou bem estranha
Um medo besta e enorme de que tudo se encaixa

Um moleque amargo no porta-retrato
Os livros cheios ditando discurso
Relembro os beijos que eu teria dado
E a tv me fritando mais um telecurso

"Jão"

(Para João Sirayama Cardoso)

Jão, o mundo são cores
Cinzento de trampo
Colorido de flores

Em sua psicodelia natural
Para forjar os aprendizes
Apenas todas as matizes
São absolutamente necessárias
A penas duras de confiança
.                           e entrega
Pois é entre a guerra e a paz
Que o amor se faz

Jão, o mundo são dores
Conflitos nos campos
E em becos de horrores

Mas no fundo tudo é tão normal
E a explicação mora além
O desejo do mal é ser o bem
Por isso vá atrás do melhor
.                           vinho da adega
E esteja certo que a única solução
É arrebatar a vida com
.                           desordeira paixão.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Baby Steps

Joy of living
Is something to learn
Pass the joint
Share the wisdom
What you give
Is what you earn

The gift is the
Damn
Keep it simple
Don't you ever
Lose control

Love is not what
You retain
Pain is here
Now start
The show.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Acaciaux & G.Race

No 2º Se Rasgum (ainda "no Rock") uma das bandas de maior destaque apresentadas naquele ano quebrava tudo sob a alcunha de Filhos de Empregada. Trazia experimentalismos low-fi, psicodelia, curtição pop, senso de humor (sem piadinhas) e dancinhas da APAE. Tirava e dava barato. Rolou um mini hype, saíram na Rolling Stone, tocavam na náite e tudo indicava que o disco seguinte ia ser muito mais foda. Mas a banda acabou. Yuri Santos começou a trampar nas festas do Meachuta e projetos próprios, Brunno Régis virou fiel escudeiro da cineasta Priscila Brasil na Greenvision e Acácio Canto se tornou... errr... um cara que fazia uns covers de Pavement e Micheal Jackson no "show de calouros" Banquinho e Distorção da Se Rasgum.
Só que o maldito tinha um plano que ninguém sabia (nem ele): tava tocando, compondo e gravando o seu projeto paralelo que já existia antes da sua banda hypada. Ele tinha me mostrado algumas músicas dessa época como Pornless e eu sempre me interessei pelo que o cabôco fazia. Mas agora tava tudo quieto.
Ele me disse em alguma festa que queria me mostrar "umas coisinhas que tava fazendo em casa" mas viajou pro Canadá antes que eu pudesse ouvir qualquer faixa.

Bem, hoje o Yuri resolve me mostrar isso: http://www.myspace.com/acaciaux


O som é animal e, como qualquer coisa que realmente vale a pena, a segunda audição é melhor que a primeira e pior que terceira e assim por diante. Não vou ficar falando de influências e referências aqui. Isso fica contigo que tá lendo. Mas se você tá com pouco tempo vá direto em Violence on Baby Cats, Imaginary Jam,  Promiscuous Vampires e Evil Leather.