Poesia de garagem, música, descrições e indiscrições. Um blog tardio mas que nasceu de sete meses, angustiadinho e agora com algumas revisões gramaticais.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

não quero mais que brote do expurgo
totem forjado em farpa, ossos e refluxo
descarto espasmo, renego impulso
não quero que vaze da pele
não quero temperado em febre
ainda que conte minha estória
me faça dormir

quero que empedre
que cristalize no canto do olho
esculpida sem desculpas
nos mesmos cortes que talharam minhas palmas
sem buscar trauma
sem verter sangue
sem gritar “pule”
quero que coagule

.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

vislumbre

a lupa tangencia
emoldura o globo solar
cravo o foco no astro
com a polpa da pupila
pelo ventre de vidro
tento enxergar o mistério
com a íris
incandescente

cresto inerte por um dia
incrustado no segundo
fulvo e claro onde leio
a arquitetura dos ventos
a atmosfera que adensa o tórax
o hálito adocicado da besta
os extáticos murmúrios fronteiriços
dos leitos vivos de morte

e assim o deslumbre se esvai

o vórtice estelar
flutua furtivo e insidioso
dança entre um véu de nuvens
desviando meu olho revel
dos instigantes umbrais
da plena certeza

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domingo, 12 de dezembro de 2010

Colheita

esquecido no amparo quente do capô
vejo o dia queimar enquanto coleciono nuvens
a sordidez e os canos sanitários mantém seu trânsito no solo abaixo
enquanto capturo os sonhos fumegantes do resto do mundo

são tantos e a noite tenta fustigá-los de estrelas
interrompem-se em choques inadvertidos e gentis
desejos comuns em fusão engendrando novos delírios gasosos, fugazes
escolho e recolho
todos e cada um
pra assentar o piso de casa
e escovar meus dentes podres de cotidiano e medo da morte

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