Poesia de garagem, música, descrições e indiscrições. Um blog tardio mas que nasceu de sete meses, angustiadinho e agora com algumas revisões gramaticais.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Limpando a casa 3


Às vezes tu tá tão fodido
Que simplesmente faz sentido
                                   Ao factótum Chinaski

O grito vem mudo
E a dor se faz jus
Da garganta saltam pepitas de pus

O peito duro e seco
Secreta meu segredo
E eu me sujeito
Arruinado
Ao espaço vazio do quarto
De fora do quarto
De dentro do peito

Ela foi embora mais cedo
Mas eu tinha ido antes

As bolsas dos olhos guardam tudo
E ficam cada dia mais pesadas
Saco o último filete de vinho na garrafa
E me vem a mesma náusea escrota de que vou amolecer

Engulo o choro

Enquanto houver estômago
Há fel


Nevasca

Os olhos ardem
Nessa brancura doente
Descompassada
Como teu abraço
À distância

Os olhos doem
Densos de neve e nervos
De te ver
Pelo o nublado real
Nua e quente
Se afastando entre as mesas do bar. 


.

Limpando a casa 2


Um Bilhete Num Vaso Vazio.

Eu ainda teimo em, a cada visita, tentar ver um fio que seja daquela afobação juvenil se esgueirando através de um gesto teu, um sinal qualquer, talvez balbuciado. Algo ainda deve estar lá. Pego a tua mão com um carinho que não me permitirias naqueles dias de risos furiosos e talheres que cortavam o ar. Meus cigarros queimam bem mais rápido nessas tardes de conversas sem som, angustiado pelas gentis condolências das árvores e do amargo paraíso de tranquïlidade que a enorme janela à nossa frente nos empurra retina adentro. Talvez corras solta no fundo do que sobrou da tua mente, talvez deites lânguida e arranhes e beijes e brinques a sério com tuas certezas que tiveram de ser trancadas aí dentro contigo. Revelações afiadas demais para o mundo aqui fora. Cacos de espelhos que desarmavam a velha e te criaram estigmas. Teus pés – curvados pra dentro enquanto sentas numa poltrona confortável demais – já não me dão o compasso e os contrapontos da vida em nossos bailes matinais na varanda de casa. Meu rosto aconchegado à altura do teu colo sentia teu peito pulsar uma vida maior do que a de qualquer coisa que tenha se manifestado nos arredores do meu pequeno mundo. O álcool na boca do velho ausente e o éter nas unhas da carola velha farejaram pares na solução fácil dos homens brancos de razão. Hoje mamãe recebe em casa as amigas da igreja cheias de lembrancinhas e elogios supérfluos, soterrando toda a memória das verdades oferecidas impiedosamente por ti. Não os quero mais por perto. O que fizeram contigo é tão abominável que mesmo eu – que tento entender o que pode ser o amor – não suporto as poucas horas ao teu lado, estática e ausente, sabendo malmente respirar. Vou embora pro resto do mundo e espero que essa missiva derradeira que acomodo nas tuas mãos inertes chegue a ti de alguma forma, nem que seja pelo resto de salitre que ainda insiste em dar algum tipo de brilho e esperança ao meu olhar.


Batom e Outras manchas difíceis de lavar

Ela me vestia com o orgulho de quem dá a luz
E me pintava os tons de quem já foi amada
Me perfumava em rosa e me floria em laços
Nas tardes longas em que ele seguia a estrada

Seus vestidos longos sobre as minhas calças curtas
Sapatos fundos e os passos tortos não me faziam mal
Largava meus soldados sós com o peso do seu chumbo
Pelas plumas me afagando o rosto num segredo umbilical

Nos sentindo seguros por aquelas outras festas
Esquecemos que para o susto não há previsão
Talvez o bar fechado pelo luto de um conviva
Ele chegou antes das cortinas perderem a função

O punho direito acertou-me em cheio
Ao vê-la caída, apoiada na escada
Com o fio carmim se fundindo ao vestido
E a mandíbula perfeita totalmente destroçada

.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

I should be a polar bear, but It's impossible.




Bird Mad Girl

This girl has got a smile
That can make me cry
This girl just burns with love
She's burning burning deep outside

Night time night time
Sets my house on fire
I'll turn into the melting man
I'll lose my life
To feel I feel desire

Oh I should feel
Like a polar bear
Like a polar bear
It's impossible

She flies outside this cage
Singing girl-mad words
I keep her dark thoughts deep inside
As black as stone
As mad as birds

Wild wild wild
And never turn away
Sends me all her love
She sends me everything
She sends me everywhere

Oh I could be
A polar bear
Oh I could be
A polar bear
But it's impossible

I try to talk
The sky goes red
I forget
So fill my head
With some of this
Some of that
Some of every word she said

Oh I should be
A polar bear
But it's imposible

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Refreshing



A Pillow Of Winds

A cloud of eider down
Draws around me softening the sound
Sleepy time when I lie
With my love by my side
And she's breathing low
And the candle dies.
When night comes down you lock the door
The boot falls to the floor
As darkness falls the waves roll by
The seasons change
The wind is warm.
Now wakes the owl, now sleeps the swan
Behold a dream, the dream is gone
Green fields
A cold rain is falling
Near the golden dawn.
And deep beneath the ground
The early morning sounds and I go down
Sleepy time in my life
With my love by my side
And she's breathing low
And I rise like a bird
In the haze and the first rays touch the sky
And the night winds die.

.

sábado, 20 de agosto de 2011

A Iguana e Os 3 Patetas

Acabei de comprar meu ticket to dive: vou pro show do Iggy e os Stooges em Las Vegas. Hoje eu sou um adolescente feliz.



Tomar umas aulas com o velhinho.

Sou um homem sem fins lucrativos. Doente porém vivo. Eu quero é que se foda!






Vou morrer botando fé no Fest-a-Lozzi.

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sexta-feira, 19 de agosto de 2011


ela me pediu um lance
me pediu uma dica de banda pra ouvir enquanto pedala
me pediu que o céu germinasse pra que os pássaros comessem das nuvens
me pediu o sol e só

ela me pediu uma noite
me pediu pra largar as caretas e os vícios
me pediu pra listar virtudes
e pra usar band-aids

ela me pediu o mundo
me pediu mais histórias, mistérios que nos alimentassem
me pediu paisagens, gente, gente
e um postal do meu quarto

ela me pediu um tempo
me pediu que a vida simplesmente vivesse
me pediu que não lesse o horóscopo
e que tomasse os remédios

pediu pra que eu fosse feliz

e me pediu tudo num silêncio tal
que nem mesmo ela ouviu

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Feliz dia dos pais atrasado.

Ontem eu encontro com Denis Haruo já há um bom tempo longe, em Floripa. No meio do papo ele me conta o seu diálogo com Logan, filhote de 8 anos de idade que mora com a mãe aqui em Belém:

- Pai, por que você não vem morar aqui?
- Por que isso, Logan?
- Por que você não vem morar aqui, oras?
- Tu sabes se eu sou teu pai?
- Você é meu pai!
- Quem te disse que eu sou teu pai?
- Ninguém me disse.
- Então como tu sabes?
- Eu sei.
- Tu queres mesmo que eu mude praí?

Tá aqui desde abril, o patife.

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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Limpando a casa.


ventrículo


vinte uma pequenas serpentes
num fluxo do ventre ao esôfago
do externo pro íntimo
escamas enroscando o tórax
vórtice ardil

cálido como não se sabe a morte

o enlace não é novo
presa que me abate