eles olham meio baixo, quase de lado, antes de recitar
com voz angelical – um rosnar feroz - sobre a eternidade do amor
com voz angelical – um rosnar feroz - sobre a eternidade do amor
não eu
eu , bem verdade, nunca quis escrever sobre o amor
é mais fácil escrever sobre os pés cortados no caminho
prum bar
sobre a etiqueta dos becos
sobre o que seja
perecível
e
ou
cotidiano
sabonetes beijos gasolina
folhas peixes saldos bancários
polietileno fraldas humor
porra, é tão difícil escrever sobre o amor
talvez o escreva em partes
sem alardes
sem nem ao menos me dar conta
das tuas unhas que escrevem runas, em línguas esquecidas, enterradas,
como um fio de areia soprado em minhas costas
ou pelo calafrio que sentimos ao antecipar os movimentos do amor, que se esgueira
por detrás de uma árvore, tentando, como uma criança, nos tomar num susto belo e cômico em meio ao caminho que fazemos de volta, junto às sombras da praça a duas quadras da tua casa
não tento rosnar o amor
ladro baixinho
no volume infrassom
de palavras urgentes sobre o nosso amor
cotidiano e perecível
e sempre que percebo que ele quase se mostra
dizendo que é bem maior do que se pode sentir
te agarro firme
nos braços
no dente
Um comentário:
perfeito!
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