Poesia de garagem, música, descrições e indiscrições. Um blog tardio mas que nasceu de sete meses, angustiadinho e agora com algumas revisões gramaticais.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A América é uma beleza. (resumão capenga)

A viagem foi muito bacana, mesmo com o cancelamento do show do Iggy - malditos punks da terceira idade! - e com um roteiro família especialmente pautado em compras pro enxoval dos gêmeos da Nessa. Mas deu pra tirar alguns dias e algumas noites pra mim.

San Francisco é mesmo a cidade foda que eu imaginava e talvez até mais. Conhecí a Haight/Ashbury esquina-símbolo da contracultura hippie e do Verão do Amor em 67, e seus arredores. Pubs, aluguel de fantasias pra freaks ou rockstars em ascensão, museus com artigos de necrofilia à venda, bandas de folk-rock sulista tocando na rua, livrarias undergrounds, vendinhas de produtos orgânicos, lojas de artigos canábicos (nunca me ofereceram tanta maconha num dia, contei catorze), esotéricos, vintage, camisas e camisas e camisas tie-dye do Greatful Dead. Isso meio que define os cinco ou seis quarteirões da avenida princiipal do The Haight. Mas essa definição, pra mim, não estaria completa sem a menção da maior loja de discos independentes dos Estados Unidos, Amoeba Records, onde comprei oito quilos de vinil que me pesaram o resto da viagem toda, gastei umas boas três horas e não conseguí matar a loja inteira. Um show legal de uma banda de electric blues tomando as melhores cervejas californianas (comandadas pelo amigo e estudioso de cevada, Ricardo Gluckpaul) fizeram uma das melhores noites em San Francisco, no Biscuit & Blues.

Cheguei em Vegas só pensando no show dos Stooges. A cidade não tem absolutamente nada a ver comigo. Tudo monumentalmente artificial, roleta pra todo lado, o conceito "winner/loser", fundamental no espírito americano, materializado em uma cidade no meio do deserto. Bem simbólico, na verdade. E meio deprimente também. E o fato de saber em cima da hora que não rolaria o show que provavelmente seria o ponto alto da viagem deprimiu um pouquinho mais. Porém, um pouco de sarcasmo e fair play conseguiram me salvar. Fui com a famíia para um show do Rod Stewart (!!!), o que foi agradável pela bizarrice. O cara é uma espécie de Fábio Jr. sem noção. Os mesmos trejeitos, o mesmo charminho, a mesma audiência. Mas pra ter uma idéia do chute de balde do cara, logo na primeira música docemente intitulada Love Train, o imenso telão roda este vídeo clássico.

Seguimos pra San Diego e tudo o que eu esperava da cidade era uma parada praiana. Não, não levei sunga. Mas a parada me surpreendeu. Uma cidade extremamente charmosa e simpática - aliás, justiça se faça, em todo o tempo que estive lá tive pouquíssimas situações de antipatia e falta de educação do povo americano, sempre solícito, polite e de sorriso no rosto; imagino se não estivessem em crise. Ok, os passeios com a família giraram mais pelas áreas abastadas e balneários caros. Mas, mesmo assim, um passeio solitário por uma feira mais afastada do centro e perto da praia, com brechós, lojas maconhísticas, tarô e mais produtos orgânico (parece que toda a cidade da Califórnia tem uma porra duma rua dessas) se mostrou bem agradável. A night surrpreendeu também. Conseguí sair toda noite pra um dos centros noturnos da cidade, os arredores da 5th St, talvez o mais quente dali. Meu hotel ficava há umas sete quadras limpas e cheirosas do lugar. As indicações me mandaram pra um pub irlandês no final da rua, com decoração irlandesa, cerveja irlandesa, um velho irlandês com um violão irlandês todo fudido tocando música irlandesa, e quatro americanos tipicos, tipicamente bêbados, pedidndo a típica Blowin' In The Wind. Tomei umas duas Guiness típicas e subí a rua pra ver se achava algo melhor. Umas quadras acima, depois de bares e restaurantes lotados, filas de boates se alongando com maurícios e negões que pareciam ter ido no salão fazer cabelo e unha pra noite, entrei num boteco chamado The Stage onde se apresentava a pior banda alternativa da costa oeste. Eu adoro bandas low-fi, mas aquilo era demais. Era tão ruim que dava vontade de ver how low could they go. É fato que a vocalista - uma japonesa linda e desengonçada - ajudava como atestou um velho moído e deslocado do meu lado no balcão: "the girl is the band!". A banda matou o show logo e começou um dj de hip-hop. Saí. Voltei dois dias depois pra ver uma banda cover de hard rock/metal farofa. O lugar mais cheio parecia também mais pronto pro show. Um grupo de umas sete grupies, metade oriental (como esses bichos proliferam por aqui!) piravam na moçada da tal banda e um americano médio tentava pular e bater palmas. A banda tocava bem, mas a idade (a mesma minha, por sinal...) ajudava a dar o ar decadente próprio do hair metal. Fiquei tomando uns shots de Jack Daniels como o momento aparentemente pedia, em homengem ao Peracchi e ao Damaso. Foi divertido pacas. Mesmo não conhecendo nada do que os caras tocavam. Quando lado B do Möntley Crüe já tava ficando demais, eles anunciaram as três últimas da noite e emendaram Skid Row (18 and Life), Ac/Dc (TNT) e Ozzy (Crazy Train). Cantei junto com o sexto shot derramando no bar. E quando uma moçoila esticou um papel escrito "why don't you come on to the jungle with us?" o vocalista emendou "nós não tocamos essa música, beibe!". Não me contive, pedi a saideira me babando de rir. O resto da noite continuou estranho. Me meti num inferninho escroto que só rolava drum'n'bass. Saí andando sem rumo até chegar num outro pub onde quase me meto em merda quando outro americano médio ficou aparentemente querendo me tirar um sarro. Mas na America tudo é belo. Mandei ele se fuder, ele me mandou também, cada um virou de biquinho pro seu lado e pronto. Esse é um país com culhões.

No dia anterior havia encontrado de novo com Gluckpaul e sua turma (uns nove) e começamos a noite tomando num boliche. Eram umas 10 e meia e esta turminha da pesada já vinha se exercitando desde à tarde (onde Maneca e Ricardo haviam se metido numa competição de beer bong que só as imagens registradas da comemoração dos dois pela vitória em cima dos caras "da casa" podem descrever com mais precisão). Saio pra fumar e um cara vem me pedir cigarro. Me diz que é Stephen e começa a me contar que veio de Michigan e que tá fudido. Tinha vindo junto com o melhor amigo tentar um emprego "go west" e que deixou filha e ex-mulher pra ver qual é. Tavam há dois dias na cidade, sentaram num bar e, quando ele voltou de uma mijada, o cara e a sua mochila com todos os seus pertences (grana, roupa, identidade, seguro social, foto da filha, os caralhos) tinha evaporado. Continuei trocando idéia e ele me fala que a sogra era gente boa, que nem entendia o porque tinha entrado nessa, que a promessa era boa, que conhecia o cara há uns tempos, que já tinha sido salvo por ele numa situação lá, que não sabia o que fazer. Eu, mister simpaticão, respondi "bicho, tá foda mesmo pro teu lado, né? faz o seguinte, vamo tomar uma comigo hoje! Tô com uma moçada aí do Brazil, todo mundo é gente fina... friendly people... coisa de brasileiro, saca? É assim mesmo, desencana pelo menos hoje". Acabamos o cigarro no frio da calçada e a moçada me chamou pra matar a conta. Enquanto eu vou lá ele vai pro banheiro. Chego lá, todo mundo bêbado, rindo das estórias que passaram em Alcatraz. Tinham pago a minha conta e estavam decididos a ir pra casa, com a distinta excessão do Ricardo e da esposa e escudeira, Luciana, que fizeram questão de continuar numas cevas comigo. Subimos dois quarteirões até chegar à Quinta, andamos uns quinze minutos num papo bacana atrás dum bar decente. Enfim, me dou conta que deixei o tal do Stephen no banheiro do boliche. Rí: Puta que pariu! Só a ironia me salva. Entramos num pub, o papo e a noite seguiram beleza até um pouco mais tarde.

De lá, seguimos pra mais uns poucos dias em Miami até voltar pra casa.

Esses foram uns highlights cheio de lacunas da viagem com a família. O resto que interessar vou contando por aqui ou tomando umas.

Aê.