Poesia de garagem, música, descrições e indiscrições. Um blog tardio mas que nasceu de sete meses, angustiadinho e agora com algumas revisões gramaticais.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Paula

eu poderia minerar o fundo dos becos do abismo
comendo com animais de olhos grandes e noturnos e
entender como tu dissolves essa minha
tristeza

eu deveria dissecar os fios etéreos de um raio de sol
auscultando com meus dedos teológicos e vacilantes os
segredos que fazem refletir em ti somente
beleza

pra quê?

prefiro abrir um vinho contigo
e mudar os móveis de lugar

.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Manu Chao no meu quintal e eu querendo mais patchanka!

Finalmente no último domingo Manu Chao fez sua esperadíssima apresentação em terras parauaras. Não foi em acampamento de mst, nem fórum social mundial, nem congresso de comunicação. Muito pelo contrário, assistí o show numa área vip - afemaria! - do Afrikan Bar. E foi bem bacana. Não digo do caralho por chatice minha, pois sou fã do cabôco e mais ainda da sua antiga banda: o Mano Negra.

E é isso que explica minha satisfação incompleta.

Nada a ver com a produção, por sinal o Soneca (e sua Sonique) mandou bem pacas: som porrada, dois palcos, tenda pra tal área vip e line-up acertado. Dj Patrick Tor4 que comanda as festas Babeleska e Baile Tropical; Juca Culatra & Power Trio, o hypado-bola-da-vez com carisma e chacundum perfeito pra essa noite; Coletivo Rádio Cipó que com uma dose de boa vontade pode ter uma certa ligação com o próprio Mano Negra; e o Pinduca, mais uma vez aclamado como cult por quem vem de fora: Manu além de prestar as devidas homenagens ao mestre de carimbó no início do seu show, chegou a dizer em entrevista que Pinduca "foi verdadeiramente a música de minha vida brasileira nos 90".


Manu Chao veio em trio (com o antigo baterista do Mano Negra e o guitarra da Radio Bemba) e fizeram o que dá pra se fazer com um trio. E como a maioria esmagadora da galera estva esperando ouvir os hits do Clandestino, nem precisava muito mais que isso. O show começou com batera marcada simplona e dois violões num clima quase praieiro, nochero, djambeiro. E já aí o guitarrista Madjid Fahem se mostra foda solando baladas com vontade e velocidade hardcore - Menescal e Lucas me olham incrédulos "que porra é essa?", "tô esperando essa corda arrebentar há umas três músicas". O guitarrista tem tanto carisma que engoliria completamente Manu Chao, não fosse a reverência quase mítica que o público tem pelo artista. Então Madjid troca a violão de nylon por uma guitarra com wah-wah e overdrive e o negócio esquenta. Ou quase. O trio faz combos de músicas de Manu com misturas de reggae e levadas típicas dos seus discos da carreira solo com algumas intervenções porradas de distorção que lembravam muito os discos ao vivo do Mano Negra (eles até mandaram uns aperitivos da época como Señor Matanza e Machine Gun) coisa que provavelmente pegou de surpresa uns bombados e a mulherada de saião e penduricalhos de pena e coquinhos.



Aí que me complicou! Fiquei imaginando o que seria estar no meio de um show da banda ali por 91, 92, quando 8 negos no palco faziam a parada ferver com uma mistureba de ska, dub, hardcore, latinidades, música francesa, interferências de rádio e discursos políticos, como se o Clash tivesse nascido na Colômbia, vivesse no México e curtisse umas fiestas na Martinica, ou melhor, no Haiti. Como seria estar no meio de uma putada dessas? Foi essa pergunta que me tomou boa parte de um show muito legal. Curtí tudo "meio que pela metade" querendo algo mais que não veio e possivelmente nunca vai poder vir. Merda de nostalgia de trintão.
Mala vida, cabrón!